1. |
Coco Cabotino
02:04
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COCO CABOTINO
(Chico Saraiva/Mauro Aguiar)
Não há cupim, nem erosão ou esmeril capaz
De carcomer o que compus com tanta inspiração.
Se eu não errei a mão
Tudo perdurará
De geração em geração até galgar a glória!
Abalará a fundação e deixará pra trás
Meus desiguais, nunca jamais me compreenderão.
Se eu não errei no tom
Tudo prosseguirá
E meu refrão ecoará no fundo da memória!
Ninguém decapitará
O que compus opus dei
Copa de jequitibá sombreia
A obra capitular
Que ao futuro ofertei
Já foi pegando uma dianteira.
Arrastará a multidão e ficará no ar
Nessa estação por um milhão de anos-luz ou mais.
Se eu não surtei de vez
Ela resistirá
A roda que tritura a moda à cada nova história...
Então depois ao que compus com o coração na mão
Não caberá definição nem rótulos banais.
Se eu não menti demais
Hão de me dar razão,
Na hora “H” estenderão a mão a palmatória...
Ninguém decapitará
O que compus opus dei
Copa de jequitibá sombreia
A obra capitular
Que ao futuro ofertei
Já foi pegando uma dianteira.
Olha que eu não sou cabotino
É que eu só sei fazer o fino
faço asim desde menino
e até meu coco bater pino
eu vou continuar
só no manjar...
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2. |
De salto agulha
03:29
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Voz: Verônica Ferriani
Violão e Arranjo: Chico Saraiva
Trombone: Roberto Marquês
Baixo: Marcelo Cabral
Percussão: Vitor da Candelária
Coro: Chico Saraiva, Marcelo Pretto
e Caê Rolfsen
DE SALTO AGULHA
(Chico Saraiva /Mauro Aguiar)
De salto agulha
Ela me tritura.
A cada paso em falso dela
Eu subo num cadafalso
No tablado
E ali acorrentado
Aos pés daquela
Que pisa leve na área
Da minha coronária
Morro de bom grado.
De scarpin na carrasqueira
Ela é maneira
Voa, salta, repinica
Ao som do samba
E como anda bela
Abrindo janelas
Nos olhares
Dos meus pares
Pantera dos safaris
Só na dela.
Do salto ela não desce
Nem atende à minha prece
Profana
Aos pés da cama
Me olha de cima
Sente o clima
Curte a fama
De salto agulha
Ela mergulha
E o meu coração
Se derrama.
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3. |
Araripe ararat
03:51
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ARARIPE ARARAT
(Chico Saraiva/Mauro Aguiar )
A Serra do Araripe
Pa rirá um pau-de-arara alado
Em meio ao alarido
Do sertão milpovoado.
E no clarão o Cariri
Inteiro caberá num caminhão
dourado.
E então todo entupido
O pau-de-arara alçara voo
Desenxabido.
E só parará pra piriri
De algum desprevenido
E chegará sem pressa
Ao paraíso prometido.
Sem pororoca de pó
Nem semiaridorido.
Só que de queixo caído
O Ceará constatará
O ocorrido.
E disso eu não duvido!
O pau-de-arara ficará parado
E o que era longe vira ali do lado.
E o Cariri inteiro
Meio que contrariado
Hoje estará resolvido:
Que só sonhará colorido
O seu futuro arado aterrizado.
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4. |
Na pele
02:33
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NA PELE
(Chico Saraiva/Mauro Aguiar)
Apele pra a pele maluco!
ela é que te dá um toque
ela é que te impele para o ato
antes que tu Te sufoque.
ela é que dispensa o papo
ela é que te faz profundo
nela é que tu roça o mundo
que se tatua em tua entranha.
ela por você apanha
ela guarda o teu afeto.
ela é o seu melhor projeto
nunca vai ser uma estranha.
Apele pra pele maluco!
ela é que te dá um toque
ela é que te impele para o ato
antes que tu te sufoque.
ela é que repensa o fato
sem ficar se remoendo
ela é que acaba vendo
pelos poros o que ninguém ficou sabendo.
Ela não quer ser fronteira
Ela não quer ser limite
ela é que te permite
ser uma pessoa inteira.
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5. |
Sanfona Safenada
02:59
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SANFONA SAFENADA
(Chico Saraiva/Mauro Aguiar)
Sou sanfoneiro e fungo o fole da sanfona até “virá” poeira
sanfoneiro e fungo o fole até “virá” poeira
Mesmo que chegue a derradeira eu “vô resfolegá”
Enquanto o mundo me escapole eu brinco na fronteira
“Tô” mais pra lá do que pra cá...
Mas se o “gai” do candieiro “tá” querendo se “acabá”
Bem na hora H
Já troncho pra “desencarná”
Eu faço a sanfona “chiá”
Despacho qualquer carpideira
Pra Quixadá
Que gemedeira é só pra gente se chegá
Se aconchegá
Numa esteira, ah!
Sou sanfoneiro e nem me fale, e nem me fale em “pendurá” chuteira
Sou sanfoneiro e nem me fale em “pendurá” chuteira
Minha sanfona safenada “inda” levanta pó
Em cada toque essa danada acende uma fogueira
Pra não “pasá pruma” pior
Mas se a vida na carreira “qué fechá” meu paletó
De madeira e o nó
Já “tá” me apertando o gogó
Eu mando um acorde maior
E abraço a “mulhé” guerrilheira
De Mossoró
Minha sanfona brasileira, meu xodó
Que no forró
Não me deixa só.
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6. |
Lua pós-lua
04:39
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LUA PÓS-LUA
(Chico Saraiva/Mauro Aguiar)
Lua acesa
luze-me
Lua alisa-me a asa da ilusão
Que eu zuno abduzido
Adeus! Adeus!
Ah! Deusa de isopor
Venha por meu pôr do sol à prova,
Lua cheia ou lua nova,
O seu dossel de sal é meu!
Lua que o céu produz a sós
Lua do arrebol
asaz antecipada
Arrebatando-me por nada!
Lua que me alicia
Dia é noite, noite é dia
Desliza-me essa azul beleza
Lua leia-me a certeza.
Lua, Lua pantanosa
Musa, musa me desguia!
Minha lua após a NAsA
Onde a nave repousou
cansada
Minha lua ozonizada
lua luz misteriosa
Só em ti me sinto em casa
E vou dormir de alma em brasa.
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7. |
Revés
03:05
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REVÉS
(Chico Saraiva/Mauro Aguiar)
Logo que me encontrou
Mostrou sua nudez
E eu nem quis indagar porquês
Nem se fazia jus.
Feliz e embasbacado ali
Fugindo em vão dos seus ardis
Já não sabia discernir
O que era sombra e o que era luz.
Mas você despertou
A minha insensatez
E eu sequer pude ser sagaz
Pois nunca lhe supus.
E até para zombar de mim
Do meu revés, minha mudez
Me fez virar de vez refém
Do bem que o seu olhar me fez.
REVÉS
(Chico Saraiva/Mauro Aguiar)
Hoje vivo a perguntar
Onde foi parar meu chão
Em que nuvens estão meus pés e as minhas mãos
Por que é que você não me diz,
Já que estamos a sós, onde pôs
Meus dois olhos exaustos
De ver os seus dois olhos nus?
Não lhe custa responder
Onde está meu coração
Já que desde que lhe vi perdi noção.
Como está pode ser bem capaz
Que ele pulse sem mim, de viés
E eu preciso saber onde jaz
Pra pousá-lo aos seus pés.
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8. |
Errática
02:59
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ERRÁTICA
(Chico Saraiva/Mauro Aguiar)
Eu recorro ao erro sempre que posso
E erro e erro e erro sem remorso.
O remorso é o filho bastardo da culpa
Aquela que não come a fruta
Mas engole o caroço,
Aquela que não come a carne
Mas não larga o osso.
Aquela que não vive a vida
Mas espera todo suicida
No fundo do poço
No fundo do poço!
Eu recorro ao erro sempre que posso
E erro e erro e erro sem remorso.
Todo erro encerra um acerto
Todo erro é um bom começo
É o esboço do concerto
Mundo farto do estilhaço
Onde sempre amadureço
Onde sempre me refaço
Dessa obrigação do certo
Num lugar pra lá de torto.
Eu recorro ao erro sempre que posso
E erro e erro e erro sem remorso.
E erro e erro e erro e erro e erro e erro e erro sem remorso.
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9. |
Filha de encanto
03:26
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FILHA DE ENCANTO
(Chico Saraiva/Mauro Aguiar)
Eu sou mandingueira, manteúda e Deus me ajuda ainda
Enfrento quebranto, arenga, agouro e me faço linda
Quando meu grito se alonga
Toda quizila escorrega
foge cega com o gume do lume de Yansã.
Eu sou macumbeira, sapopemba e vivo na curimba
Mas tenho decoro não, guardo meu ouro em minha cacimba
Mel do meu canto decola
Chega em Mamãe Dandalunda
Que faz lá minha onda sonora marejar.
Minha voz labareda do samba no breu
É mandinga que alegra, é milagre, é luar
Trago no meu gongá
Um batuque à granel
Que alaga meu sangue de orgulho iorubá
Eu sou brasileira, beiradeira, e força repentina
Esquento o banho de cheiro pro couro da minha cantiga
Minha garganta de seda
É sedução desabrida
Aprendida na fonte escondida de Oxum.
Eu sou curandeira, rezadeira e tenho a voz caluda
Ungüento e encanto que ponho no corpo mamulengo cura
A lama que me ilumina
Na hora da reza clara
É a calma colhida no colo de Nanã.
Minha voz alameda do samba no pé
É candonga que afaga, é luz negra, é mulher
Trago em meu patuá
Ta lismã de Guiné
Que garante meu canto em qualquer canto que eu for cantar!
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10. |
Canção Extinta
04:47
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CANÇÃO EXTINTA
(Chico Saraiva/Mauro Aguiar)
Cai a tarde, o tempo flui
Câmera lenta
Com o dia que se esvai
Meu coração se ausenta
Tentando acalentar uma canção extinta
Foi a tarde, a noite tem
Alma serena
Quando uma estrela cai
De um céu de porcelana
Eu fico a imaginar quem lá de longe acena.
A saudade dói
Mas no seu vai e vem
Ta mbém distrai
Sem fazer alarde
Quem do tempo sai
Vê que nunca é tarde.
Vem
Vamos deixar a vida olhar além numa canção
Tocar a imensidão
Querendo acreditar que vale a pena
Imitar o mar
Enlaçar o céu
Ver o bem por trás da tal cortina
Ta lvez desmesurar
Que um grande amor não desencantará
Enquanto houver alguém
Que saiba asim ficar nessa saudade
Num fim de tarde.
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11. |
Telhado de vidro
03:36
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TELHADO DE VIDRO
(Chico Saraiva/Mauro Aguiar)
Não adianta vir
Alardeando o fim do mundo
Assim rosnando, cão danado em meu jardim
Do Édem
As circunstâncias pedem
Outros atos menos falhos
Aliás
Contra sua ira momentânea
Que lhe faz refém da fúria
Uma pedra em cada mão
Tenho a sensação que sei de cor
o antídoto
É seu telhado de vidro
Que tem medo do satélite esquecido
Ou de uma estrela cadente
Que alegra tanta gente e tanta gente comemora
e só você nessa hora
Senta no meio fio e chora!
Senta no meio fio e chora!
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12. |
Metralhadora Giratória
02:35
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METRALHADORA GIRATÓRIA
(Chico Saraiva/Mauro Aguiar)
Eis o meu samba alucinante
Feito elefante em cristaleira
Metralhadora giratória ai ai ai
Pa rafernália sem fim
Fiz asim
Como quem sai da matéria
Fiz asim
Como quem mira num querubim
Fiz
Pra coisa aqui ficar séria
Fiz pra sangrar sem deixar cicatriz!
Eis o meu samba camicase
Com pose de eminência parda
Indo a reboque da vanguarda ai ai ai
Pa rasitando a matriz.
Fiz questão
De um samba asim sem memória
Quando não
A mão da escória num tamborim
Fiz
Sem esperança de glória
Fiz para quem tá como eu por um triz!
Eis meu samba incoerente
Que mente até que o mito entranha
Va i dando pito enquanto apanha
Leviatã de armazém.
Veja bem
Não falo em contracultura
Veja bem
Não quero a cura do que não tem.
Fiz
Porque ninguém mais atura
Tanto nonsense e mingau de raiz.
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13. |
Via Aérea
03:12
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VIA AÉREA
(Chico Saraiva/Mauro Aguiar)
Meu olho no topo do corpo
Espiava outra topografia
Lá do alto do meu pensamento
Era a alma que tudo asistia
Assistia ao balé do momento
Que jamais outro captaria
Um balé pleno de movimento
Sem o peso da coreografia.
E o balé todo não corpulento
No entanto dizia e vivia
E falava uma língua de vento
E mostrava ao que vinha e viria.
O meu olho no cume e no centro
Inventava uma nova alegria.
Alegria de ver não se vendo
Não vendendo ou comprando a matéria
Que o balé ia lento rompendo
Numa bela expressão via aérea
Do que o olho ao olhar ia sendo
Sem saber que era coisa tão séria
Um balé feito do sentimento
De quem tem a visão sempre etérea.
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